sexta-feira, 27 de junho de 2008

Minhas pérolas sobre o fio de prata

O post de hoje é dedicado a si próprio. Se continuarem o post até o final, entenderão.

"Quando eu morrer, o fio de prata de um colar de pérolas vai se arrebentar, e todas as pérolas, lisinhas e acetinadas, vão rolar pela terra e correr de volta para a casa delas, para suas mães-ostras lá no fundo do mar. Quem vai mergulhar e apanhar minhas pérolas depois que eu tiver ido embora? Quem vai saber que elas eram minhas? Quem vai adivinhar que antigamente, há muito tempo, o mundo inteiro pendia em torno do meu pescoço?" Trecho - Through the glass, darkly by J. Gaarder.

Esse pedaço, contido no diário que expõe os pensamentos da pequena protagonista Cecília Skotbu em "Através do espelho", me marcou profundamente desde a primeira leitura. Numa lida bastante superficial e precária, nada parece ter de especial. Entretanto, sempre me pareceu uma mensagem insidiosa da mas bela epifania. Insidiosa porque parece se camuflar na sua simplicidade.
E essa deve ser a ideia.
Deve-se levar em conta que a o narrador é uma menina, que não deve ter mais de 9 anos no livro, e que escreve seus pensamentos em seu diário como já havia dito.
Outra coisa a se levar em conta é que ela está a morrer. E ela sabe disso. Ela é apenas uma criança, mas aceita muito melhor que nós, adultos, a sua morte.
Mas como toda pessoa, tem medo de se perder no esquecimento.
Quando o fio se rompe, rompe-se, em verdade, nossa existência material integrada. As pérolas voltam de onde vieram. Os átomos voltam à natureza. Apanhar as pérolas significaria resgatar a memória dela. Lembrar-se dela. E dizer que as pérolas eram suas e que representavam o mundo inteiro pendendo em seu pescoço traduz o sentimento humano de fazer-se protagonista dentro da história do mundo, da história do seu próprio mundo interior.
Hoje só quis dividir aqui neste espaço essa minha ideia. Já li esse trecho para diversar pessoas que simplesmente não puderam se maravilhar diante de seu conteúdo. Talvez por estar descontextualizado. Não sei. O que sei é que a cada nova leitura que faço em cima do mesmo trecho, vejo coisas novas, escondidas sob metáforas múltiplas. E que talvez embora seja um livro voltado ao público infantil, tenha sido o que mais me fez refletir sobre a vida, sobre o mundo material, sobre a essência das coisas, sobre o que importa de verdade. Maior prova disso foi a inspiração para o nome deste blog.
Para finalizar, outros trechos que gosto:

"Todas as estrelas acabam caindo. Mas uma estrela é apenas uma pequenina centelha do grande facho de luz que há no céu".


"Não são as crianças queridas que recebem muitos nomes; são as crianças perdidas que recebem muitos nomes. As que são encontradas na soleira da porta. As que vêm ninguém sabe de onde. As que ficam pairando no espaço vazio."


"Não é a criança que vem ao mundo, mas o mundo que vem para a criança. Nascer é receber de presente o mundo inteiro".

Um comentário:

AkoMi disse...

Hola!
tiempo sin visitarte, también he estado con poco tiempo por la universidad...
En el post anterior "lemos" quise decir "leemos", quizas el traductor no fue correcto, es que no sé portugués, solo lo intuyo.
Bueno, estamos en contacto.
Adios!