quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Sob a sombra do pássaro

Poema presente como epígrafe no livro Através do Espelho. A poetisa, na época em que o escreveu tinha 16 anos, quando já contava em seu repertório mais de 200 poemas. Hoje não tenho muito o que postar.

Joy is a butterfly
Fluttering low over the earth,
But sorrow is a bird
With big, strong wings.
They lift you high above life
Flowing below in sunlight and growth.
The bird of sorrow flies high
to where the angles of grief keep watch
over death'S lair.


Edith Södergran (1892-1923), 16 anos, de seu diário.


Tradução por Isa Mara Lando:

A alegria é uma borboleta
Voando sobre a face da terra,
Mas a tristeza é um pássaro
De grandes asas negras
Que nos erguem muito acima da vida.
Lá embaixo, à luz do sol, a vida flui, tudo cresce.
O pássaro da tristeza, porém, voa bem alto,
Lá onde velam os anjos da dor
Sobre o covil da morte.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

O problema da mentira

A mentira, em si, não envolve apenas a questão da confiança e da credibilidade. Mentiras e mais mentiras criam um universo muito real: o das atenções redobradas.
O mentiroso conhece suas limitações. Ou pelo menos deveria.
Quem mente tem de se próprio policiar incansavelmente. Tem, claro, pouca credibilidade, estima e admiração dos outros. E simplesmente vive em companhia ao medo. Segreda com ele todas as noites antes de dormir - e dorme mal. Escondem-se sob o mesmo máculo manto do silêncio e usam a máscara da crítica ao comportamento alheio como fantasia predileta. Enquanto se focam a falar mal dos outros, pensam que ninguém lembra de seus defeitos. Ledo engano. Isso só confirma a superficialidade que lhes reveste.
Não que eu repudie qualquer tipo de mentira, mas primo sempre pela verdade. Eu sei e todo mundo sabe que às vezes ela realmente nos abala. Mas ficar com a "versão do consolo", afinal, serve de quê?
Quem já deu algumas mentidas ou mesmo omitiu alguns fatos sabe a situação desconfortável e sem saídas em que se colocam. E eu claro, não fujo dessa realidade.
Há fatos e fatos. E somente fatos. Mas somos nós que os carregamos de propósitos, de moralidade e de sentimentalismos. Ora, porque somos humanos!
Eu, nos meus dilemas entre o dizer e o não dizer, me decidi a não omitir, sempre que achar que faz muita diferença esconder os fatos. Eu sei que com isso ainda vou ouvir muita coisa a contragosto. Mas sinceramente, não tem perda maior que não deixar as coisas acontecerem da forma mais agradável possível. Cada mentira (ou omissão) é uma ruptura da normalidade, da fluidez dos fatos. E já que tudo são fatos, deixemos que fluam.
A vergonha não está em quem a timidez ultrapassa os bons modos: olhar nos olhos enquanto com o outro se fala. A vergonha está em ter motivos reprováveis para não o fazer: é difícil encarar quando se está mentindo.
No final das contas, chega-se à conclusão de que mentira alguma é bem-vinda. Algumas são toleráveis, é verdade. Eu jamais teria coragem de dizer a um mendicante que não lhe dou esmolas porque não quero. Minto, simplesmente: "não tenho trocado".
Mas abrir brechas é uma questão bastante complicada. Começa-se com uma "exceçãozinha" e logo as exceções viram as regras. É bom estabelecer limites para tudo.
O grande mentiroso também pode estabelecer limites. Uma hora ele vai sim se dar mal. A limitação depende somente do quanto ele se importa com isso. Perdoem-me, depende só do quanto ele quer se "ferrar".
Dá para se pensar assim: se incomoda no inconsciente mentir, é porque não se deve mentir. Se o caso, no entanto, deveria incomodar, mas não incomoda, creio que a questão fuja bastante do assunto. Não se trata de ser mentiroso. Trata-se de um outro comportamento. Não sei se existem graus de moralidade. Mas vejo isso como algo que transcende a imoralidade da mentira. Seja qual for o nome para esse indiferente calunioso.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Saudade

E tem gente que ainda não consegue admirar a língua que fala (nosso lindo português).
A matéria é antiga (2004), mas creio que deva continuar válida.

Saudade "é a 7ª palavra mais difícil de traduzir"
da BBC, em Londres

Uma lista compilada por uma empresa britânica com as opiniões de mil tradutores profissionais coloca a palavra "saudade", em português, como a sétima mais difícil do mundo para se traduzir.

A relação da empresa Today Translations é encabeçada por uma palavra do idioma africano Tshiluba, falando no sudoeste da República Democrática do Congo: "ilunga".

"Ilunga" significa "uma pessoa que está disposta a perdoar quaisquer maus-tratos pela primeira vez, a tolerar o mesmo pela segunda vez, mas nunca pela terceira vez".

Em segundo lugar ficou a palavra "shlimazi", em ídiche (língua germânica falada por judeus, especialmente na Europa central e oriental), que significa "uma pessoa cronicamente azarada"; e em terceiro, "radioukacz", em polonês, que significa "uma pessoa que trabalhou como telegrafista para os movimentos de resistência ao domínio soviético nos países da antiga Cortina de Ferro".

*Contexto cultural *

Segundo a diretora da Today Translations, Jurga Ziliskiene, embora as definições acima sejam aparentemente precisas, o problema para o tradutor é refletir, com outras palavras, as referências à cultura local que os vocábulos originais carregam.

"Provavelmente você pode olhar no dicionário e [...] encontrar o significado", disse. "Mas, mais importante que isso, são as experiências culturais [...] e a ênfase cultural das palavras."

Veja a lista completa das dez palavras consideradas de mais difícil tradução:

1. "Ilunga" (tshiluba) - uma pessoa que está disposta a perdoar quaisquer maus-tratos pela primeira vez, a tolerar o mesmo pela segunda vez, mas nunca pela terceira vez.

2. "Shlimazl" (ídiche) - uma pessoa cronicamente azarada.

3. "Radioukacz" (polonês) - pessoa que trabalhou como telegrafista para os movimentos de resistência o domínio soviético nos países da antiga Cortina de Ferro.

4. "Naa" (japonês) - palavra usada apenas em uma região do país para enfatizar declarações ou concordar com alguém.

5. "Altahmam" (árabe) - um tipo de tristeza profunda.

6. "Gezellig" (holandês) - aconchegante.

7. Saudade (português) - sentimento nostálgico, sentir falta de alguma coisa ou alguém (o significado não é consensual).

8. "Selathirupavar" (tâmil, língua falada no sul da Índia) - palavra usada para definir um certo tipo de ausência não-autorizada frente a deveres.

9. "Pochemuchka" (russo) - uma pessoa que faz perguntas demais.

10. "Klloshar" (albanês) - perdedor.