segunda-feira, 17 de novembro de 2008

O problema da mentira

A mentira, em si, não envolve apenas a questão da confiança e da credibilidade. Mentiras e mais mentiras criam um universo muito real: o das atenções redobradas.
O mentiroso conhece suas limitações. Ou pelo menos deveria.
Quem mente tem de se próprio policiar incansavelmente. Tem, claro, pouca credibilidade, estima e admiração dos outros. E simplesmente vive em companhia ao medo. Segreda com ele todas as noites antes de dormir - e dorme mal. Escondem-se sob o mesmo máculo manto do silêncio e usam a máscara da crítica ao comportamento alheio como fantasia predileta. Enquanto se focam a falar mal dos outros, pensam que ninguém lembra de seus defeitos. Ledo engano. Isso só confirma a superficialidade que lhes reveste.
Não que eu repudie qualquer tipo de mentira, mas primo sempre pela verdade. Eu sei e todo mundo sabe que às vezes ela realmente nos abala. Mas ficar com a "versão do consolo", afinal, serve de quê?
Quem já deu algumas mentidas ou mesmo omitiu alguns fatos sabe a situação desconfortável e sem saídas em que se colocam. E eu claro, não fujo dessa realidade.
Há fatos e fatos. E somente fatos. Mas somos nós que os carregamos de propósitos, de moralidade e de sentimentalismos. Ora, porque somos humanos!
Eu, nos meus dilemas entre o dizer e o não dizer, me decidi a não omitir, sempre que achar que faz muita diferença esconder os fatos. Eu sei que com isso ainda vou ouvir muita coisa a contragosto. Mas sinceramente, não tem perda maior que não deixar as coisas acontecerem da forma mais agradável possível. Cada mentira (ou omissão) é uma ruptura da normalidade, da fluidez dos fatos. E já que tudo são fatos, deixemos que fluam.
A vergonha não está em quem a timidez ultrapassa os bons modos: olhar nos olhos enquanto com o outro se fala. A vergonha está em ter motivos reprováveis para não o fazer: é difícil encarar quando se está mentindo.
No final das contas, chega-se à conclusão de que mentira alguma é bem-vinda. Algumas são toleráveis, é verdade. Eu jamais teria coragem de dizer a um mendicante que não lhe dou esmolas porque não quero. Minto, simplesmente: "não tenho trocado".
Mas abrir brechas é uma questão bastante complicada. Começa-se com uma "exceçãozinha" e logo as exceções viram as regras. É bom estabelecer limites para tudo.
O grande mentiroso também pode estabelecer limites. Uma hora ele vai sim se dar mal. A limitação depende somente do quanto ele se importa com isso. Perdoem-me, depende só do quanto ele quer se "ferrar".
Dá para se pensar assim: se incomoda no inconsciente mentir, é porque não se deve mentir. Se o caso, no entanto, deveria incomodar, mas não incomoda, creio que a questão fuja bastante do assunto. Não se trata de ser mentiroso. Trata-se de um outro comportamento. Não sei se existem graus de moralidade. Mas vejo isso como algo que transcende a imoralidade da mentira. Seja qual for o nome para esse indiferente calunioso.

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