sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O legal do "happy dead"

No meu aniversário acabei ganhando uma regatinha do Camiseteria. Foi meio que surpresa. Eu havia pré-selecionado algumas estampas, mas não fazia ideia de qual ganharia, e, ainda, sinceramente, até o dia da festa, eu já havia me esquecido completamente de todas elas. A estampa é justamente essa que coloco no post.
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Pois bem. Pode não ser dos preferidos de muitas pessoas. Seja porque são... MORTOS (oras), seja porque tem um ar de infantil, ou poderiam simplesmente resumir tudo em "tens um mau gosto... um gosto pra lá de duvidoso". Tudo bem, respeito todas as opiniões. Mas, uma vez isso deixado claro, passo a expor a minha, que não cá está para persuadir ninguém, afinal, meu objetivo não é revender a regatinha, gostei muito dela!
Tenho que começar me recontando. Eu, quando criança, costumava brincar num parquinho do clube de onde era sócia. Aquele lugar já foi bonito. Hoje, desconfio que inexiste, afinal, a sede foi vendida. Mas mesmo ao decorrer de minha infância, fui pouco a pouco vendo os brinquedos descascarem, começarem a enferrujar,  perderem o fluido, e rangerem naquele espaço que também foi perdendo as crianças que se tornaram adolescentes num piscar de olhos. Enfim, tornou-se um lugar desabitado, sem encanto, e, aos meus olhos, sombrio. Eu tinha um certo medo de brincar lá. Havia também uma casinha de alta tensão, e aquela placa de aviso com tais dizeres e a figura de uma caveira.
Sim, eu morria de medo daquela placa. Não ligava para o choque, até porque, eu jamais chegava perto o suficiente da dita casinha. Mas aquela caveira... ah, ela brincava com meu imaginário. Para mim, que creio  na época nem ter suficiente discernimento para saber o que era "alta tensão", me passavam várias coisas à mente, menos choque. Imaginava espíritos, fantasmas, esqueletos de crianças saindo daquela casinha.
Hoje, claro, dou boas risadas. E o mais engraçado disso tudo, é o contraste. Não sei o que exatamente havia lá para ser necessário o alerta de perigo: casa de máquinas, gerador, não sei, e perdoem minha ignorância. Mas... precisavam colocar aquilo num parquinho de crianças? Num playground?! Por quê?
Um lugar destinado às crianças, à diversão, à alegria.
Como disse, hoje dou boas risadas disso tudo. Inclusive, hoje sou uma grande adepta dessa moda skull. Não que tenha começado a usar caveiras como acessórios em função da moda. Meu interesse veio antes, e a moda não quis ir embora pelo visto.
Perguntam-me por que essa paixão toda repentina por caveiras?
Porque para mim, ela é um símbolo. Não da morte. Não mais. Representa todo meu amadurecimento. Tanta informação contida numa caveira! Como assim? É simples. E eu explico o contraste que antes havia mencionado.
Quando no parquinho do clube, criança que era, a caveira, ali, naquela placa, tinha uma função de extrema importância: alertar aos baixinhos que ali não era lugar de brincar de esconde-esconde, por exemplo, de escalada, ali era, numa palavra, perigoso. Aquele perigo nem um pouco sedutor. Aquele perigo de morte mesmo! Mas não era nada disso que eu via quando olhava para aquela caveira.
Hoje em dia, no entanto, pode ver, a morte aparece em desenhos para as crianças. É para elas gostarem daquela figura da morte! Não daquele jeito assustador, mas no melhor estilo "happy dead". Veja-se nosso querido Tim Burton. Ele é a prova viva (trocadilho sem graça) disso. Lembro-me de quando vi "A noiva cadáver", e o "mundo dos mortos" tinha bem mais cores que a vida "terrena e carnal". Tudo era mais divertido entre os mortos. Por que isso?
No caso do Tim Burton, porque ele é um gótico, isso é fato. Mas não é o meu caso.
Meu caso é que eu cresci, amadureci. Tirei muitos "fantasmas" da minha vida. Fantasmas, por exemplo, de assombrações mesmo, mas também da ingenuidade, da inocência, da  ignorância, do não entender tantas coisas da vida. É a constatação de todas essas coisas que me ocorre quando vejo uma caveira.
E hoje, ela fica por aí, estampada em camisetas, penduradas em pingente, no sentido mais alegre e cool possível. Mas hoje, não sou uma criança que gosta de caveirinhas desenhadas no melhor estilo "cute", feito desenho animado. Sou uma adulta, que se encantou pela arte de fazer dos antigos medos uma mudança de paradigma. Ou quem sabe, uma forma diferente de encarar as coisas.

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