sábado, 12 de janeiro de 2013

Peru - país lindo

De volta de recém-visita ao Peru. Que país lindo! Sob vários aspectos, eu me apaixonei por este país de origem Inca.
Meu primeiro destaque vai para o povo. As pessoas lá são indiscutivelmente acolhedoras. Dizem que o Brasil é um país receptivo, com pessoas "quentes" e simpáticas. Isso é bem verdade comparado a países do outro lado do mundo. Mas os peruanos têm um jeito próprio de demonstrar afeição. É uma afeição natural de quem quer que você entre não para fins meramente comerciais da ganância. É aquela afeição advinda da necessidade de ganhar o pão de cada dia, sim, mas sempre com um sorriso sincero no rosto, um "buen día" e muita calma. Eita povo colorido.
Cidades um pouco maiores como Juliaca vivem um trânsito desordenado, mas incrivelmente sem colisões. Ao meio de tantos "tuk-tuk", bicicletas e carroças, não se vê praticamente nenhum veículo amassado. É uma confusão que eles parecem entender.
Nem por isso tudo lá brilha feito novo. Bem pelo contrário, as casas - quase nunca acabadas -, os já ditos veículos e as pessoas em geral, estampam desgaste. Quanto maior a altitude, mais o vento gélido queima e envelhece até o rosto da mais tenra criança. Não sei se é só o frio que as envelhece, ou se é a condição econômico-financeira do país que corrobora essa fisionomia um tanto quanto sofrida; desde pequenos parecem entender que é preciso garantir "la propina del día". Quase todos os lugares por que passei, se fosse tirar foto de um rebanho de lhamas ou mesmo da pessoa, o comum era pedir uma "ajudinha". Quem lá liga para direito à imagem? Un nuevo sol (moeda peruana) estava de bom grado. Mas houve em especial dois garotos que pararam para a foto, fazendo pose com toda convicção, pelos quais eu simplesmente me encantei.
Também posso dizer que são pessoas de palavras, o preço que prometem fazer, eles cumprem. Não há dúvidas que a maior parte das cidades próximas às turísticas vivam também dessa atividade. E as "feirinhas" artesanais nelas se proliferam. Quando se vai por entre as barraquinhas, se desejar comprar algo, pechinche. Não porque é o que eles querem, mas porque, em geral, conseguirá um preço justo pela mercadoria, e eles não se ofendem com isso. Temos o hábito aqui no Brasil de pagar pelas coisas um preço irreal. O produto vale bem menos do que se oferece, e embora fiquemos desgostosos com o preço, o pagamos sem cerimônias. Acredito que essa experiência, de a toda compra querer economizar, me transformou um pouco. É bom poder oferecer aquilo que você entende por certo. Faz refletirmos o valor que damos para cada coisa, daquilo que se adquire com dinheiro, e daquilo que dinheiro algum compra.

Puerto Maldonado, cidade capital do departamento de Madre de Dios, comemorava seu aniversário, e uma festa mesclada com ares de Navidad acontecia. Houve um desfile com carros enfeitados, e um deles distribuía (num termo "bonitinho", já que, em verdade, o ideal seria dizer "jogava") balas às crianças que assistiam ao desfile. E dava para ver a ânsia da garotada. Aquele asfalto sujo, empoeirado, e elas se atirando ao chão para pegar os doces, como se a vida delas dependesse disso. Bom, talvez não a vida, mas quiçá o sentido dela. A felicidade tem muitas conotações, e alguma delas, só estando na pele alheia para saber.

Os melhores pratos deles, no meu paladar, são as papas fritas, quinua, pollo e o tomate. Mas não se deve ter pressa para comer, até porque, eles não têm pressa para cozinhar. Mas, por mais demorado, do ponto de vista crítico brasileiro, que seja o serviço, eu não consegui me estressar, porque todos os garçons e garçonetes mantinham o semblante tranquilo e o sorriso mais caloroso que já tive a oportunidade de ver. Sabe aquele sorriso da pessoa amada, quando você olha para ela, e ela o retribui com um sorriso que você enxerga a bondade da pessoa até os mais afastados rincões da alma? Então, era assim que eu me sentia toda vez que sorriam. E só cabia esperar, quase como se estivesse apaixonada.

Quanto à cultura Inca, gostaria de partilhar aquilo que ficou mais vívido, e portanto, pude reter em minha memória. As explicações do guia Alex em Machu Picchu - dono de uma postura muito respeitosa em relação aos demais colegas de mesma ocupação no parque - eram feitas em voz baixa, para não atrapalhar as explanações alheias, e para fazer com que aqueles que estivessem efetivamente interessados em ouvir aquilo que tinha a dizer, que se aproximassem. E foi nesse clima de "rodinha" que as informações foram passadas, tal como um ancião repassa seus conhecimentos ao seu povo, sem muito esforço vocal, mas com memória impecável e orgulho da história de seu país.
Machu Picchu foi projetada para ser uma cidade povoada pelos "mejores maestros", considerados nobres. Eram excelentes astrônomos, e já conheciam o movimento de rotação e translação da Terra, de modo que dividiam seu calendário em 4 estações do ano, este iniciado (para nós) em 21 de junho, solstício de inverno, cuja noite é a mais longa do ano.
A cidade contava com sistema de drenagem de águas, estrutura trapezoidal de construção para dar maior estabilidade contra os sismos, e curiosos e bem elaborados sistemas de trava de portas como método de segurança. As portas que continham tal sistema eram altas porque determinadas autoridades não caminhavam, sendo carregadas, e porque por aquelas passavam mantimentos, cargas e afins. De modo geral, entretanto, percebe-se que as portas são baixas, o que, conjuntamente com outros estudos, estima-se que a altura média da população não ultrapassava 1,60m. Ainda que baixos, eram dotados de porte físico muito forte, e tinham como um dos lemas "não ser preguiçoso". Nem haveria como. São tantos degraus...
Junto às paredes, há inúmeros vãos, também em trapézio, onde os incas exibiam seus "ídolos". Com a queda do império inca, que ocorreu devido a uma guerra civil por disputa de poder entre os governantes, esses ídolos, em grande parte de ouro, foram saqueados.

A cruz andina. A cruz andina possui 3 níveis: o do mundo animal, do mundo material, e do mundo espiritual. Ela era esculpida pela metade, como se a outra metade estivesse encravada no solo. Razão disso, existia uma certa exposição solar cuja sombra projetava exatamente a parte restante, completando a cruz. Uma das simbologias mais belas que já tomei conhecimento. Desculpa, igreja católica, eu sinceramente me emocionei mais com o significado dos 3 degraus para a elevação sublime do que a expiação. Se a beleza do país não paga meus pecados, eu não sei mais o que o fará. 


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