terça-feira, 9 de abril de 2013

Conversando

Sabe, eu não sou uma grande contadora de histórias. Eu me dou melhor nas pequenas intromissões de fala, quando alguém encarecidamente me pede um conselho ou quando minha resposta se limita a um "sim" ou "não", e um sorriso no rosto ou um olhar de "sinto muito" na cara, só para endossar. Nessas situações, eu sei que realmente me ouvem, ou até melhor seria dizer, "me ouvem com os olhos": reparam em minhas palavras, no meu olhar, nas minhas mãos, na pausa entre cada palavra transmitida.
Mas a rotina das conversas não costuma ser assim. Não culpo ninguém, talvez eu não saiba me expressar direito. Eu ainda dependo de todos meus sentidos para uma conversa. 
Vivo me perdendo nas narrações, porque inevitavelmente (na minha cabeça) a outra pessoa me lança um olhar de quem finge me escutar, ou, se nem for uma conversa cara a cara, eu consigo ouvir o desinteresse só pelas palavras escolhidas pelo interlocutor. E isso me tira o foco. Conversar para mim sempre foi muito mais que duas ou mais pessoas falando. Aliás, muita gente querendo conversar ao mesmo tempo me é um pouco perturbador. É tanta gente falando ao mesmo tempo, que eu não consigo ter o prazer de saborear a individualidade de cada um vindo de forma verbal. É quase uma tempestade. Só ruídos. 
Bem, eu confesso que entrei um pouco no jogo - talvez num estilo muito inglês meu de ser - quase nunca eu respondo a um "tudo bom?" senão com um outro "tudo bom?". Pode não ser lá muito educado, mas para mim é uma das maiores convenções sociais já inventadas ("How do you do?/How do you do?"). Ninguém precisa correr o risco do outro começar com o "bem, BEM, não tô, mas vai indo. Sabe que outro dia...". Mas que fique claro que se a pessoa responder à minha resposta-pergunta, eu vou ouvi-la com satisfação. Na verdade, eu defendo o cumprimento britânico, porque quem correria o risco seria o outro; talvez eu goste de ser sincera demais. E isso nem sempre pode prestar. Consciente dessa inconveniência, eu poupo as pessoas (oh, como eu sou altruísta!). 
Afinal, conversar para mim é, mesmo que só para fazer o social, uma troca de percepções da vida. Conversar exige tato. Exige esforço. Não que não deva ser algo agradável e natural. É igual a um relacionamento. Deve ser agradável e natural, mas exige esforço, porque são sempre duas pessoas diferentes que estão envolvidas. Uma boa conversa pode até ser aquela em que apenas um fala sem parar,  desde que o outro esteja ouvindo de verdade. É aquele "cala, reflete, consente, discorda" - tudo mentalmente. E disso, leva novos pensamentos para sua vida. 

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