sexta-feira, 28 de março de 2014

O Garoto no Convés

Esse é provavelmente um livro tão bom que dispensa entrar em detalhes e cometer o erro de soltar um spoiler. O livro conta uma versão ficcional, por John Boyne, de uma história verdadeira sobre o motim no Bounty - fragata do Rei Jorge da Inglaterra, sob o comando do Capitão Bligh. O protagonista, o jovem John Jacob Turnstile,  conquista logo a simpatia do leitor, mesmo no começo da aventura ser dado a uma vida de furto.
E é um furto que leva Turnstile a embarcar no Bounty. Como forma alternativa de cumprir a pena de encarceramento por 12 meses, o fidalgo francês, Matthieu Zéla, vítima do furto, propõe ao juiz que o jovem substitua ao criado do capitão do Bounty numa missão ao Otaheite (Taiti). Dessa aventura, com certeza o mestre Turnstile aprenderá muitas coisas para a vida, e a sua ida à ilha será crucial para mudar seu destino. 

Ao ler o livro, me afeiçoei por muitos personagens, me irritei com outros tantos, tudo na medida, creio, que Boyne quis passar. A história é grandiosa, emocionante, e, não sei se por não ter estado muito bem de saúde nos últimos dias de leitura, sinto até que sofri as dores dos personagens. Recomendo o livro, sem restrições. É uma história sobre lealdade, sonho, superação, e, oras, sobre a vida. Talvez, não como gostaríamos que ela fosse, mas, ainda que de certa forma ficcional, como ela realmente é. 

terça-feira, 25 de março de 2014

Orgulho, orgulho, orgulho!

AHHHH, Que orgulho!!!
Não entendo quase nada do que está escrito, mas estou toda orgulhosa de ver meu irmão"zinho" saindo assim até em blog japonês
E sim, eu concordo, ele é uma graça! Enfim, fiquei com vontade de conhecer o tal Cafe. Quem sabe quando. 

terça-feira, 18 de março de 2014

Um dia

Alerta, spoiler!
O que me levou a ler "Um dia", de David Nicholls foi, sem dúvida, a capa do livro. Mais honesto seria dizer, o que eu LI na capa do livro. Nada mais, nada menos que um breve comentário do Nick Hornby. "O QUÊ??? O NICK LEU O LIVRO? TAMBÉM QUERO!", pensei comigo. O comentário dele? "Cativante, inteligente, espirituoso". 
Olha, eu concordo com ele. O livro cativa porque, como os romances em geral, queremos saber a história. Emma Morley é um tanto teimosa, mas ainda assim é uma protagonista da qual gostamos facilmente. Foi ficando mais chatinha com o passar dos anos, sem dúvida. Mas eu atribuo isso à sua própria teimosia. E por todas as coisas bacanas que Dexter poderia ter feito, mas não fez. Simplesmente porque estava bêbado demais e, sóbrio, não achava que a ideia era tão bacana assim. Uma pena. 
É inteligente por dois motivos: sua estrutura e a personalidade de Emma. A estrutura é feita com as histórias paralelas de Em e Dex a cada 1 ano, todo dia 15 de julho, dia de São Swithin - que, segundo Dex, se chover nesse dia, choverá por 40 dias assim. Achei uma metáfora encantadora. Emma e Dexter vivem 20 anos nem chovendo e nem molhando, e não apenas 40 dias. É como se eles tivessem parado no tempo, no primeiro encontro e permanecido no mesmo estado por todos esses anos. Não que cada um não tenha evoluído (ou decaído) nesse meio-tempo, mas, em relação ao sentimento entre os dois, há uma paralisia que incomoda nós leitores. TODO mundo sabe que Emma e Dexter se gostavam e que deveriam ficar juntos. E por que isso não acontece em tantos anos? Bom... já disse lá atrás. Teimosia e bebida demais (leia-se imaturidade).  Quanto à personalidade de Emma, ela é erudita e naturalmente engraçada. Mas boa parte da graça advém do fato de lhe faltar autoconfiança, e, aos poucos, esse lado engraçado pode cansar. Mas, como a própria sorte dela irá mostrar, Emma é uma literata. Ponto para David Nicholls que acertou na dose!
Espirituoso? Ah sim. Creio que até demais. Eu preciso dizer que, num todo, não gostei da história. Por ser espirituosa demais. Não que eu quisesse um romance água-com-açúcar (eu nem gosto muito de livros assim - leves demais), mas para mim não havia mais história depois de Emma. Eu sei que a vida segue, e é isso que talvez Nicholls quis mostrar. Mas Emma era o brilho nas entrelinhas, e meio que perdeu um pouco o sentido ler o livro só para ver o que o Dex resolvia fazer da vida. 
Não é um livro que eu não recomendaria, no entanto. Mas, no final das contas, a verdade é que a gente conhece muitas pessoas iguais a Emma e Dex, e olha para trás, vê que elas não se acertaram, que perderam muito tempo, que poderiam ter sido mais felizes. 
Para mim, é sobre isso a história: sobre o desperdício do amor - tecla que Carlos Drummond tanto batia. E, ai, como isso me cansa. 

segunda-feira, 17 de março de 2014

Harlan Coben

Autor de best sellers, Harlan Coben é presença confirmada na Bienal do Livro (SP) este ano!

sábado, 15 de março de 2014

O caderno de Maya

Decidi escrever alguma coisa sobre os livros que leio, assim que os termino, para não me esquecer da história. Não é nenhum crítica, review ou coisa do tipo, apenas impressões, pontos a destacar sobre o enredo, sobre algum personagem.
Vou começar com o Caderno de Maya, que terminei já tem mais de uma semana...
De verdade, não recomendo a leitura para quem não gosta de spoiler. São posts um tanto quanto egoístas, que talvez possam interessar a alguém, mas esse nem é o objetivo. O objetivo, já disse, é não me esquecer das histórias.

Sinceramente, Maya Vidal, protagonista, para mim, era uma garota mimada sem muita força de vontade, o estereótipo da pessoa que foi criada pelos avós durante a infância e na transição entre adolescência e vida adulta se perdeu. 
Chorei de verdade quando a avó, Nidia, implora para que Maya tome juízo, "pela memória de Popo", como Maya carinhosamente chamava seu avô. Se eu fosse ele, assistindo à degradação humana por que ela passa, certamente ficaria muito decepcionado. Não é o que Isabel Allende pareceu querer passar. De certa forma, Popo aparenta sempre estar presente, mesmo no mais baixo nível que Maya consegue chegar, protegendo-a. 
Não gosto de pessoas como Maya, que fazem más escolhas e culpam o mundo pelo rumo que suas vidas tomam. Tudo bem que uma hora, olhando para trás, admite que ela mesma era a responsável pelo seu destino. Mas até ela cair em si, ela já tinha quase perdido a sua dignidade.
Eu gostei é de Nini, a avó. Por ser dura e doce ao mesmo tempo. Pode até ser que Popo a estivesse protegendo o tempo todo e tenha lhe proporcionado uma infância repleta de boas memórias. Mas se não houvesse um pulso firme como de Nidia, eu não creio que Maya teria alguma salvação. 
O pai de Maya existe, e é tão ausente como personagem no livro como é na vida de Maya. A mãe, então, nem se o diga. 
Mas eu gostei muito do livro. Maya é uma personagem que não foi feita para a gente se apaixonar ou sequer torcer por ela. É alguém para não se espelhar. É alguém que está aí para mostrar que nossas decisões têm repercussões, têm peso, e podem destruir nossa vida. E o livro está aí para mostrar que a vida não é fácil mesmo. 
Por trás desse drama todo vivido, ainda tem 2 histórias paralelas muito boas, a que explica do quê Maya fugia, enquanto escrevia em seus cadernos, e a verdadeira história de sua família; um segredo que Nini escondeu por anos até de seu próprio filho, o pai de Maya (sério mesmo, não me recordo o nome dele - ora, que me importa?). 

quarta-feira, 12 de março de 2014

Sem lugar

Sim, é claro que um dia quero ter minha própria biblioteca, para, de duas, uma: ou fazer com que meus filhos se apaixonem pelo mundo da leitura e adorem subir as prateleiras para agarrar um bom exemplar, ficando horas deitados no chão, apoiados pelos cotovelos, folheando as páginas; ou então eles terem aquele sentimento de "argh" estampado na cara, como quem não suporta a ideia de ler livros, mas um belo dia descobre, sempre por conta própria, os prazeres indescritíveis da leitura. Vejam, a consequência será uma só: meus filhos vão ler muitos livros. Eu e meu namorado costumamos brincar com a ideia de que ou eles irão amar ler ou simplesmente detestar. Ele é historiador, e eu vivo lhe dizendo que um bom historiador deve saber contar historinhas - ou estorinhas. Enquanto esse futuro não vem, eu vou me aventurando nas leituras, para saber o que indicar quando esse meu historiador particular (sim, ele quem irá contar as histórias para as crianças, oras!) for lhes narrar os incríveis enredos que lhes aguardam. Com direito à troca de vozes para cada personagem e muita, mas muita emoção na voz (pois não basta ser historiador, tem que ser intérprete).
Mas, sinceramente, há muitos livros ociosos (e olha que eu ainda nem tenho uma estante de livros digna), e eu preciso dar um jeito nessa situação. Justamente tendo falado muito desse problema (sim, é um verdadeiro problema - alguns me entendem, tenho certeza) com meu namorado ultimamente, hoje encontrei esse texto e estou pensando seriamente em aplicar o sistema, com a diferença de que não pretendo fazer tantas divisões. Só há dois futuros possíveis para meus livros: ou eles ficam comigo, ou vão para o Sebo (ou para a biblioteca municipal). 
E você, tem o mesmo problema? Então dá uma olhada no sistema que ele organizou!

Esta semana me deparei com um dos pesadelos dos viciados em livros: as prateleiras estavam de novo cheias. Voltei do México carregando uns 20 exemplares, somados aos brasileiros que tinham chegado por correio nos últimos meses e ao contrabando de livros de Mario Levrero trazidos por uma amiga uruguaia. O resultado era que havia livros espalhados por toda a casa em lugares inusitados. Um livro de contos de Kurt Vonnegut estava na gaveta das cuecas. O segundo volume das obras completas de Efrén Hernández, embaixo da cama. O romance da Socorro Acioli na cristaleira. Isso sem falar do caos em meu estúdio, onde não tenho prateleiras: só pilhas de livros nas duas mesas. Quando encontrei La historia de mis dientes, o novo romance da Valeria Luiselli, no cesto da roupa suja, achei que era momento de agir.
Fui até as prateleiras e comecei a cogitar quais livros tirar dali para deixar espaço para os novos. Os coitados escolhidos iriam, por enquanto, para umas caixas no quarto das tralhas. Porque o fato era que eu não ia comprar mais prateleiras neste momento (não perguntem por quê). Aí pensei na urgência de ter um critério para valorar os livros que merecem ficar com a gente pelo resto da vida.
Em 2003, quando saí do México para morar em Barcelona, tinha por volta de mil livros. Tive que tomar uma decisão. Decidi vender todos. Bom, não todos. Fiquei só com os autores mexicanos. Não foi por chauvinismo, foi por uma vaga ideia de que esses livros poderiam ser úteis no futuro (eu ia a Barcelona para fazer um doutorado em teoria literária). Os livros mexicanos seguiram em caixas para a casa de meus pais. Fiz uma lista do resto e repassei para os amigos e professores da faculdade de letras, que compraram a maioria. O que sobrou, vendi por quilo num sebo. Juro. Naquela época eu defendia de maneira radical a vida nômade (eu chamava de “vida portátil”). Quando saí do sebo sem o peso dos livros que eu tinha entesourado desde os 15 anos, me senti orgulhoso. Valente. Forte. Macho. Agora eu sei que só fui idiota. Ficaram lá os clássicos gregos e latinos, o século de ouro espanhol, todo o boom latino-americano, uma bela seleção de narradores americanos (especialmente a trindade Faulkner, Hemingway, Fitzgerald), os romancistas mais importantes em espanhol dos anos 90 e chega, não quero lembrar mais. Isto fez com que minha posterior biblioteca, que comecei a construir assim que desci do avião em Barcelona, tivesse buracos inacreditáveis, que aliás tem até hoje (não tenho um livro de Borges nela, nem de Cortázar). Anos depois, o método se revelou errado, não só pelo sofrimento da perda: quando revisei as caixas que deixei em casa de meus pais, encontrei bastante lixo.
Em 2011, quando mudei de Barcelona para o Brasil, fiz exatamente o contrário: trouxe todos os livros. Foi também uma idiotice, só sei agora, mas tudo bem, aquela perda ainda magoava. Não, desculpa. Nenhuma perda justifica fazer atravessar o Atlântico El koala asesino de Keneth Cook, por exemplo (o livro até que é legal, mas vem cá, não vou tocar de novo).
Então a pergunta é: quais são os requisitos que um livro deve cumprir para não ir parar no quarto das tralhas, o que é, na verdade, a antessala do sebo ou da doação, inclusive a do lixo? Ou, colocando de uma maneira dramática: quais são os livros que a gente tem que guardar para evitar o sofrimento futuro e quais são, falando a verdade, um simples estorvo?
Para facilitar a tarefa, eu criei um método científico, que chamei do “sistema jotapê para crise da prateleira”. É extremamente simples de calcular, só tem que seguir as seguintes instruções:
1. Se você já leu, qualifique o livro de 1 a 5
2. Se você ainda não leu: +5
3. Se você ainda não leu e tem o livro há mais de 3 anos: -10
4. Se você começou a ler e pensou em deixar mais pra frente: -5
5. Se você começou a ler e largou: -10
6. Se você releu o livro uma vez: +1
7. Se você releu o livro mais de uma vez: +5
8. Se é um livro de bolso: -1
9. Se está dedicado: +1
10. Se você conhece o autor pessoalmente e gosta dele: -1 (é para compensar a qualificação do livro, com certeza você não foi objetivo)
11. Se você conhece o autor pessoalmente e não gosta dele: +1 (mesma razão)
12. Se é um clássico: +1
13. Se é um raro: +1
14. Se não é nem clássico nem raro: -1
15. Se ganhou de presente: -1
16. Se depois de ler você comprou outro exemplar para dar de presente: +1
17. Se ganhou da sogra: -5
18. Se ganhou de um ex-namorado ou ex-namorada que você gostava muito: +5
19. Se você está namorando e o item 18 tem dedicatória do ex: -5
20. Se ganhou de um ex-namorado ou ex-namorada que você odeia: o que você está fazendo com essa porra de livro?
21. Se comprou durante uma viagem, num lugar lindo de morrer, com uma companhia maravilhosa: -5 (o livro não é tão bom assim)
22. Se está numa língua que na verdade você não entende bem: -5 (seja honesto)
23. Se você emprestou, não devolveram e comprou de novo: +5
24. Se você emprestou de novo, não devolveram de novo e comprou de novo de novo: você é idiota mesmo?
25. Se o autor é um amigo muito querido: -5
26. Se o autor é um amigo muito querido que visita sua casa com frequência: +20
Agora é só procurar o resultado:
Mais de 15: o livro fica na prateleira.
10-14: o livro vai para o quarto das tralhas até crise de espaço no quarto das tralhas.
5-9: o livro vai para o sebo.
0-5: o livro vai para doação.
Menos de zero: o livro vai para o lixo.
O sistema não se aplica para críticos literários e professores de literatura.
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Juan Pablo Villalobos nasceu em Guadalajara, México, e atualmente mora no Brasil. Festa no covil, seu romance de estreia, foi publicado em quinze países. Em setembro a Companhia das Letras publicou seu segundo romance, Se vivêssemos em um lugar normal. Ele colabora para o blog com uma coluna mensal. http://www.juanpablovillalobos.com/