terça-feira, 18 de março de 2014

Um dia

Alerta, spoiler!
O que me levou a ler "Um dia", de David Nicholls foi, sem dúvida, a capa do livro. Mais honesto seria dizer, o que eu LI na capa do livro. Nada mais, nada menos que um breve comentário do Nick Hornby. "O QUÊ??? O NICK LEU O LIVRO? TAMBÉM QUERO!", pensei comigo. O comentário dele? "Cativante, inteligente, espirituoso". 
Olha, eu concordo com ele. O livro cativa porque, como os romances em geral, queremos saber a história. Emma Morley é um tanto teimosa, mas ainda assim é uma protagonista da qual gostamos facilmente. Foi ficando mais chatinha com o passar dos anos, sem dúvida. Mas eu atribuo isso à sua própria teimosia. E por todas as coisas bacanas que Dexter poderia ter feito, mas não fez. Simplesmente porque estava bêbado demais e, sóbrio, não achava que a ideia era tão bacana assim. Uma pena. 
É inteligente por dois motivos: sua estrutura e a personalidade de Emma. A estrutura é feita com as histórias paralelas de Em e Dex a cada 1 ano, todo dia 15 de julho, dia de São Swithin - que, segundo Dex, se chover nesse dia, choverá por 40 dias assim. Achei uma metáfora encantadora. Emma e Dexter vivem 20 anos nem chovendo e nem molhando, e não apenas 40 dias. É como se eles tivessem parado no tempo, no primeiro encontro e permanecido no mesmo estado por todos esses anos. Não que cada um não tenha evoluído (ou decaído) nesse meio-tempo, mas, em relação ao sentimento entre os dois, há uma paralisia que incomoda nós leitores. TODO mundo sabe que Emma e Dexter se gostavam e que deveriam ficar juntos. E por que isso não acontece em tantos anos? Bom... já disse lá atrás. Teimosia e bebida demais (leia-se imaturidade).  Quanto à personalidade de Emma, ela é erudita e naturalmente engraçada. Mas boa parte da graça advém do fato de lhe faltar autoconfiança, e, aos poucos, esse lado engraçado pode cansar. Mas, como a própria sorte dela irá mostrar, Emma é uma literata. Ponto para David Nicholls que acertou na dose!
Espirituoso? Ah sim. Creio que até demais. Eu preciso dizer que, num todo, não gostei da história. Por ser espirituosa demais. Não que eu quisesse um romance água-com-açúcar (eu nem gosto muito de livros assim - leves demais), mas para mim não havia mais história depois de Emma. Eu sei que a vida segue, e é isso que talvez Nicholls quis mostrar. Mas Emma era o brilho nas entrelinhas, e meio que perdeu um pouco o sentido ler o livro só para ver o que o Dex resolvia fazer da vida. 
Não é um livro que eu não recomendaria, no entanto. Mas, no final das contas, a verdade é que a gente conhece muitas pessoas iguais a Emma e Dex, e olha para trás, vê que elas não se acertaram, que perderam muito tempo, que poderiam ter sido mais felizes. 
Para mim, é sobre isso a história: sobre o desperdício do amor - tecla que Carlos Drummond tanto batia. E, ai, como isso me cansa. 

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